"O que você pode fazer pela autoestima da sua filha"
Coincidência ou não, hoje minha pequena Bela deu seus primeiros passos sozinha! E nós (pai, biza e mamãe) fizemos (naquele exato momento) todo um trabalho para que sua autoestima se mante-se elevada, e assim te mostrar o quanto aquilo é uma conquista para todos nós, e principalmente para você!
Lembre-se você não tem limites...Supere-se sempre minha Bela!
Segue a reportagem:
O que você pode fazer pela autoestima da sua filha
Demonstrar autoconfiança e valorizar as atitudes e qualidades da garota acima da aparência física são os principais passos para criar uma adulta segura e feliz
Em vez de se olharem juntas no espelho, conversarem olhando nos olhos uma da outra. A relação entre mãe e filha é determinante na formação da autoestima das meninas e, se focada nos sentimentos e no crescimento mútuo, possibilita, entre outros benefícios, que a garota cresça equilibrada e segura, rumo a uma vida adulta feliz.
“O exemplo da mãe, de como ela trata de suas emoções, como age quando está descontente com algo e como cuida de seu corpo, e principalmente a atitude dela ao ajudar a filha a lidar com suas próprias frustrações e medos, são decisivos para que a criança aprenda a lidar com seus sentimentos. São fatores que ajudam na construção e no fortalecimento da autoestima tanto da mãe quanto da filha, pois ambas se sentem capacitadas para enfrentar a vida e seus desafios”, afirma a psicóloga clínica e pesquisadora Patricia V. Spada, mestre e doutora em nutrição e pós-doutoranda em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atuante nas áreas de vínculo mãe e filho, dinâmica familiar e obesidade.
O diálogo e a conexão, portanto, devem ir muito além da aparência. É assim que a bailarina e professora de dança Luciana Arruda faz com a filha Salomé, de dois anos. Como a menina nasceu em meio a ensaios e aulas, sempre foi paparicada pelas pessoas ao redor da mãe. “Percebi que desde cedo diziam ‘Que linda, e que olho lindo!’. Então comecei a falar com ela elogiando suas qualidades, ressaltando a criatividade e a inteligência. Digo sim que ela é linda, mas sempre em um conjunto: os olhos são verdinhos, e cheios de bondade e doçura. Quero que ela cresça sentindo que é amada e aceita pelas virtudes, não pela aparência”, conta.
Bonita, feia, gorda, magra
É normal mulheres adultas se queixarem por quererem perder “aqueles três quilinhos que estão sobrando”, mas há que se ter muito cuidado ao expressar isso diante das filhas. “Tudo que a mãe fala interfere na autoestima da menina. Ela ecoa o que a mãe, que é seu maiorexemplo, demonstra”, explica a psicóloga clínica Thais Tinelo. Trocando em miúdos, se ouvir a mãe constantemente dizer que precisa emagrecer, a garota pode tomar como verdade que para ser bonita e feliz é necessário sempre se preocupar em perder peso.
“O papel da mãe é tentar desconstruir esses mitos de beleza e vaidade a que as mulheres são expostas o tempo todo. É evitar focar na estética, no ‘feio’ e no ‘bonito’, e dar valor ao que a filha tem de bom”, diz Thais.
Na visão de Patrícia, a questão de bonita ou feia e gorda ou magra deve ser abordada de acordo com o que a menina trouxer de dúvidas de suas relações externas, e não tratada como um assunto primordial. “Além de subjetivo, o conceito de beleza se desenvolve a partir da autoestima do indivíduo. Uma criança bem amada desde o útero provavelmente terá um conceito sobre si suficientemente consistente, interessante e positivo. A boa autoestima está infinitamente além do que é esteticamente estabelecido pelo social”, defende.
E os questionamentos aparecerão, especialmente perto da puberdade, uma vez que o bombardeio de informações sobre “o corpo perfeito”, “como perder cinco quilos em um mês” e “como turbinar seus seios” é uma realidade no dia a dia. Nessa hora, o já mencionado modelo de comportamento da mãe é fundamental.
É o caso na família da hostess Marcia Marin, mãe de Camila (dez anos), Gustavo (nove anos) e Valentina (dois anos). “Acredito que meu exemplo ajude a definir a segurança deles. A Camila demonstra preocupação com o corpo, por causa das amiguinhas da escola, e digo que ela está em fase de desenvolvimento, que até a adolescência o corpo vai mudando e que ela vai ficar igual à mamãe, se quiser. Ela entende e fica tudo bem”, conta.
Adeptos do estilo de vida alternativo gótico, Marcia e o marido deixam os filhos “livres para decidir o bonito e o feio pelo ponto de vista deles”. Ela ressalta, ainda, que as meninas e o menino são orientados da mesma forma, mesmo que Gustavo tenha uma postura mais despreocupada em relação à aparência.
Luciana vai pelo mesmo caminho com Salomé. “Ela ainda tem dois anos, mas absorve o mundo à sua volta, então procuro que o contato com essa loucura de padrões de beleza seja aos poucos. Quando peço para ela comer legumes, destaco a importância deles para a saúde, não para a forma física. Ser gorda ou magra faz parte da vida, e espero que minha filha seja feliz”.
A bailarina faz bem em ficar atenta a isso desde cedo, pois assim forma uma ligação com a filha e não precisará correr atrás de uma conexão às pressas quando as indagações aparecerem. “Se a família não tiver acesso a como lidar com as emoções de forma a dar um encaminhamento adequado e saudável a elas, podem aparecer sintomas como obesidade, anorexia, vigorexia, isolamento, depressão, baixo rendimento escolar, entre outros”, enumera Patrícia. “São um pedido de ajuda para descobrir ou encontrar sua identidade, o que está diretamente ligado à autoestima. Talvez este seja o momento de procurar a ajuda de um psicólogo”, sugere.
O perigo de criar “mini adultas”
Outro aspecto relevante na construção da autoestima da menina é a vaidade. Não é porque a mãe faz as unhas e se maquia que esses hábitos devam ser estendidos à filha em idades inadequadas. “A vaidade infantil adultizada é perigosa. Uma criança não tem que fazer as unhas aos quatro anos nem que passar batom e sombra com essa idade. Corre-se o risco de ela futuramente ter problemas com a imagem, não aceitar seu rosto sem maquiagem. A criança não precisa disso nesse momento”, argumenta Thais.
“Muitas vezes, as mães as tratam assim para viver o que não conseguiram viver, misturando a vida delas com a da filha”, analisa Patricia. Ela continua: “Tentam ‘forçar’ uma autoestima positiva, sem lembrar que a formação da filha passa antes pela possibilidade de vivenciar da forma mais genuína a infância. A natureza é implacável: se o indivíduo pular fases, a necessidade de vivê-las certamente aparecerá mais tarde, quando nem sempre é possível ou saudável tentar recuperá-las. O ideal é que a criança possa ser criança”.
Na prática, a orientação da mãe é fundamental. “Em vez de brincar de maquiagem, sugira uma brincadeira com peças de montar, com bola. O brincar independente do gênero liberta a menina da vaidade desnecessária e fortalece a autoestima”, recomenda Thaís, que considera os nove anos uma idade adequada para começar a “negociar um batom rosinha para ir a uma festa, um esmalte clarinho de vez em quando”. “As mães têm que dar tempo à infância, que já é tão curta. A menina que se aceita criança aceita melhor a chegada da adolescência e da vida adulta. Em resumo, ela se aceita melhor”, resume a psicóloga.